O direito à blasfêmia…

Sociedades verdadeiramente livres devem respeitar não apenas todas as manifestações religiosas – todas, sem exceção – mas também aqueles que não professam fé alguma; a crítica, a ironia e o deboche de quem não crê integram o conjunto da plena liberdade de expressão

 

É uma farsa a histórica ideia de que o Brasil é um país laico.

Não é, nunca foi e nunca será.

O Brasil nasceu sob o signo da cristandade católica-apostólica e caminha para se tornar uma nação evangélica, com toda carga de opressão, preconceito e covardia que isso possa representar na cultura, no conjunto de valores e nos usos e costumes de sua gente, creia essa gente em Deus ou não.

O Supremo Tribunal Federal se reúne em salão com a cruz de Cristo acima de suas cabeças; o parlamento inicia suas sessões com leitura de trechos bíblicos e diante da presença da “palavra” na mesa; os valores incutidos nos livros didáticos são todos cristão católicos-apostólicos.

De que forma isso é ser laico?

blog Marco Aurélio D’Eça sempre defendeu a liberdade de expressão e de culto e a equidade de condição sexual e de identidade de gênero em toda a sua plenitude. (Saiba mais aquiaqui, aqui e aqui)

Mas no Brasil, o que há é um histórico aparelhamento do estado pelas religiões hegemônicas – católica e evangélica – em detrimento das religiões de matriz afro e dos que em nada creem.

O aparelho estatal que condena o grupo Porta dos Fundos pela ironia à história de Jesus é o mesmo que incentiva e subvenciona a Rede Record para que esta passe o dia satanizando o candomblé e a umbanda, estigmatizando ateus, agnósticos e não-seguidores de religião alguma, e transformando homossexuais em doentes endemoniados.

Ao longo da história do país, católicos e apostólicos vêm atuando para ocupar espaços de poder, não em nome da transformação social, mas em defesa dos próprios interesses dogmáticos.

Aparelhando o estado, ocupando espaços nos três poderes, estas igrejas sentem-se cada vez mais fortes para impor seus dogmas mesmo aos que não queiram – e nem são obrigados – a ouvir seus postulados.

O momento presente do país indica que as duas redes religiosas nunca estiveram tão fortes no Brasil.

Não admira, inclusive, que o desembargador responsável pela censura covarde ao Porta dos Fundos seja o mesmo que absolveu o presidente Jair Bolsonaro quando este ofendeu, agrediu, ridicularizou e vilipendiou homossexuais.

blog Marco Aurélio D’Eça sempre defendeu a absoluta liberdade de expressão como condição de existência plena do ser humano.

Absoluto significa total.

Se a liberdade de expressão não pode ser absoluta, então não há liberdade alguma.

E essa liberdade implica até mesmo o direito à blasfêmia.

É simples assim…

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